28 de fevereiro de 2009

Quaresma


A quaresma é o tempo litúrgico de conversão que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender de nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo.
A Quaresma dura 40 dias; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-Feira Santa, com a Missa vespertina. Ao longo deste tempo, sobretudo na liturgia do domingo, fazemos um esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que devemos viver como filhos de Deus.
A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.
Na Quaresma, Cristo convida-nos a mudar de vida. A Igreja nos convida a viver a Quaresma como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Nos convida a viver uma série de atitudes cristãs que nos ajudam a parecer mais com Jesus Cristo, já que por acção do pecado, nos afastamos mais de Deus. Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar dos nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem ao nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a levar a nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.

22 de fevereiro de 2009

Jesus cura um paralítico

Marcos realça que Jesus "anunciava a palavra" à multidão que enchia sua casa. É próprio deste evangelista o destaque maior à palavra de Jesus, que liberta e comunica a vida. Entra em cena um paralítico, carregado por quatro homens, e segue a cena pitoresca da sua descida, deitado na maca, por um buraco feito no tecto da casa. Jesus é tocado pela fé, não só do paralítico, mas também daqueles que o acompanham. O paralítico, portador de uma deficiência física, era considerado doente. E a doença, atribuída a um castigo divino, em consequência de algum pecado cometido. Esta compreensão, com respaldo em várias passagens do Antigo Testamento, era fundamentada na teologia da retribuição: o Altíssimo premeia com riqueza e saúde os justos e castiga com pobreza e doença os pecadores. No Livro de Jó, o autor faz uma tentativa de reverter esta visão. O pecado introduzido no livro dos Génesis, na narrativa de Adão e Eva no paraíso, é essencialmente um acto de desobediência a Deus. E é com esta característica radical que aparece ao longo do Antigo Testamento. Na religião de Israel, Deus é apresentado como aquele que está presente no templo de Jerusalém e se manifesta através da Lei, com suas centenas de preceitos minuciosos, sob controle da casta religiosa. A desobediência a este poder religioso passa a ser a desobediência a Deus, passa a ser pecado. E o povo humilde e oprimido era, comummente, enquadrado como pecador. Jesus, diante daquele paralítico, dá prioridade à sua libertação da condição humilhante e excludente de "pecador". E a libertação de sua paralisia segue-se como sinal exterior de sua dignidade restaurada.

8 de fevereiro de 2009

Ai de mim se não evangelizar!


"Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória,é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa,teria direito a recompensa.Mas, como não o faço por minha iniciativa,desempenho apenas um cargo que me está confiado.Em que consiste, então, a minha recompensa?Em anunciar gratuitamente o Evangelho,sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere." (1Cor.9,16-18)


No ano dedicado ao Apóstolo dos gentios, temos de redescobrir a urgência da missão, a qual não se identifica com o proselitismo, constrangendo os outros a adoptar o nosso modo de pensar e de ver, nem se reduz a uma mera inculturação do Evangelho, mas que antes é uma encarnação da Palavra de Deus na multiplicidade de condições humanas, línguas e costumes das pessoas que se vão encontrando.

A exclamação Paulina «Ai de mim se eu não anunciar o evangelho», é igualmente válida para todo aquele que, sendo leigo, presbítero ou bispo, recebeu das mãos da Igreja o Evangelho, esse mesmo Evangelho que deve propagar como se difunde «o perfume de Cristo» (2Cor 2,15) entre aqueles que estão perto e os que estão longe. Façamos nossa também a interpelação endereçada por Paulo à Igreja no que respeita ao mistério audaz e difícil da missão: «como hão-de invocar o Senhor, se antes não tiverem acreditado nele? E como hão-de acreditar, se dele não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, sem haver alguém que o anuncie? E como hão-de anunciar, sem primeiro terem sido ouvidos? Tal como está escrito: Quão belos são os pés dos que anunciam a boa-nova»(Rm 10,14-15). Se «a fé nasce da escuta, e a escuta nasce da Palavra de Cristo» (Ro 10,17), então a nossa responsabilidade perante o Evangelho que nos foi confiado no início do nosso apostolado é grande; uma responsabilidade de que seremos chamados a prestar contas no termo da nossa existência.

O Senhor não quer que acabemos por desvalorizar o Evangelho que foi depositado em nós como «um tesouro, em vasos de barro» (2Cor 4,7), mas quer antes que arrisquemos tudo para o fazer comercializável e vendível. Jesus Cristo em pessoa é o tesouro, achado no meio do campo, pelo qual vale a pena vender quanto possuímos e somos, a fim de o adquirir. Por ele somos chamados a considerar tudo como «lixo, a fim de ganhar Cristo e nele achados» (Fl 3,8-9). O Evangelho completa a sua carreira com os pés cansados, cobertos de pó e não raro feridos, com os pés de quem, como Paulo, «nada mais quis saber, a não ser Jesus Cristo e este crucificado» (1Cor2,2)Tal é a mensagem, da mais desconcertante actualidade, que Paulo transmite à Igreja missionária dos nossos dias.

(D.José Card. Saraiva Martins)